segunda-feira, março 20, 2006

Saúde

Num planeta com tantas diferenças é natural que haja alguns problemas de saúde. Com a o ADN do modo em que está implantado na população é tido como natural ter-se uma qualquer doença congénita. Qualquer coisa como 100% da população tem alguma maleita deste género.

Como toda a população é doente é preciso que haja um sistema de saúde compatível com as doenças. Arghalhargh tem o melhor sistema de saúde do Universo. Os médicos em Arghalhargh são os mais bem pagos da galáxia, uma vez que têm de ser os mais especializados de todos. Têm um curso de doze anos lectivos, dos quais sete em universidades e cinco em institutos farmacêuticos para conhecerem os efeitos secundários dos medicamentos.

A ciência farmacêutica é a mais desenvolvida de todas. Os farmacêuticos têm um curso de dezasseis anos dos quais seis numa escola superior, quatro numa faculdade de medicina, para conhecerem o método que os médicos usam para receitar, e seis numa escola superior de finanças para poderem gerir os avultados ganhos resultantes do lucro da sua farmácia sem perigo de loucura.

É perfeitamente corriqueiro que sejam assassinados os melhores alunos de farmácia pelos próprios colegas de turma. Já nem sequer é considerado crime, apenas selecção natural.

Os actos médicos não são pagos. Cada ser que entra num hospital doente é considerado um caso clínico, como tal é subsidiado o seu tratamento. Assim ninguém deixa de ser tratado. Como esse subsídio vem da indústria farmacêutica o doente está sujeito a tratamentos infindos e com os mais diversos tipos de medicamentos. Nem interessam quais pois são gratuitos. A prescrição médica tem tudo a ver com a última visita dos representantes dos laboratórios, com as ofertas que são feitas ao médico e com as necessidades de venda de medicamentos por parte das farmácias. Pode-se assim dizer, sem perigo de exagero, que quem receita são as farmácias, mesmo sem conhecerem os doentes.

O preço dos medicamentos aviados na farmácia era, no entanto, proibitivo pelo que ninguém aí os comprava. Então como se financiavam estes serviços? Exportando! Exportando pequenas quantidades de medicamentos inúteis para alguns planetas incautos. Inventando doenças nesses planetas com campanhas na TV e nos jornais ( manchetes como “O consumo de antidepressivos é o maior da Europa”). Assim a populaça começa a pensar que também quer aquela doença com um nome tão giro! Incentivando a paranóia e investigando vírus novos (uns que ataquem aves e que se transmitem a humanos e outras que tais!)

Houve tentativas várias por parte do poder político para moralizar este sistema, mas a resposta da indústria aos ministros era invariavelmente: “Hás de cá vir! Também vais adoecer!”. O que tirava toda e qualquer força aos políticos. Aguarda-se, no planeta, que haja um ministro da saúde saudável.

Os pacientes tinham horas intermináveis de espera nos hospitais. Já ninguém achava muito estranho, pois todos consideravam normal tal preceito. Ou os médicos estavam num congresso numa praia paradisíaca do outro lado do planeta, patrocinado por uma das farmacêuticas; ou estariam a atender um dos seus representantes (muitas vezes estes banquetes demoravam dias, ou mais vulgarmente semanas); no gozo de merecidas férias; a preencher a declaração de IRS (considerada muitas vezes para a atribuição de prémios literários de ficção); a almoçar ; beber um café; pentear o cabelo (aqueles que o tinham); ou mesmo, em último caso, a atender outro doente.

A Utilização dos livros de reclamações sempre foi encorajada pelos serviços de saúde planetários uma vez que todos precisavam de umas boas gargalhadas no meio de tanta doença.