terça-feira, março 29, 2016

Olha,
 é 2016...
será que isto ainda funciona?

terça-feira, setembro 29, 2009

ainda cá ando!
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segunda-feira, junho 01, 2009

para o pessoal que acha que eu perdi a password outra vez:
olá, estou por cá!

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domingo, maio 24, 2009

acho que consegui reactivar o blogue!
afinal ainda vive!
arghalharguei a coisa!
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quarta-feira, abril 12, 2006

Crescer II O

Isto de não se saber quem é o pai, tem que se lhe diga... traz complicações levadas do caneco... mais um trauma. É o trauma do filho-da-puta. Em Arghalhargh todos têm este trauma. Por mais que se queira, a coisa só se complica. Não é que todos sejam descendentes-da-meretriz, alguns não o são. Mas adiante.

Ninguém pode alegar que: coitadinho-de-mim que o meu pai bate na mãe e eu vejo tudo lá em casa; ou tenho de ajudar a família que a conta não chega até ao fim do mês; ou mesmo a minha mãe anda com outro homem que não é o meu pai e eu não sei onde anda esse gajo; ou ainda que a minha mãe anda a dar o coiro na curva da estrada e eu sou visto de soslaio pelos colegas. Convenhamos para ter umas desculpas convincentes é preciso ter argumentos convincentes... Como se pode numa escola, por exemplo, alegar que se é coitadinho para os professores se condoerem e não lhe atribuirem as notas que merece por não ter feito a ponta de um chavelho durante o ano? Bem, é sempre possível dizer que eu sou filho de um cabrão que nem sequer conheço! É assumir directamente o que se é: filho-da-dita.

Como poderia ser ofendido um árbitro num jogo desportivo sem se conhecer o pai e mãe? Um condutor desmiolado? Um bêbedo na sarjeta? Um vizinho numa querela?

Como deve ser, e como todos, ou quase, não conhecem seus pais, e estão em pé de igualdade, esses argumentos perdem toda a força... “Ora bolas, grande avaria, eu também não conheço o meu pai e nem por isso estou para aqui a chorar baba e ranho, como tu ó meu paspalhão!”

Por outro lado quase ninguém sabe quem é a mãe, e tem, o trauma correspondente. O de filhinho abandonado à sua sorte. Coitadinho-de-mim que nem conheço a minha santa mãezinha! E por aí adiante.

Assim ninguém pode ir fazer queixinha à mãe, que não está por ali disponível... Nem agarrar-se à barra da sua saia, pelo mesmo motivo. Deste modo fazer queixinhas daquele miúdo, na escola, que me anda a extorquir os trocos para o lanche, parece-me algo complicado... se se chatear um adulto próximo este logo lhe dirá: “ó puto, vai mas é chatear a tua mãe” e o problema fica resolvido por ali mesmo!

Se se pede a piedade do agressor, a coisa toma contornos semelhantes que resolve na hora lembrar-se da sua condição e lhe dirá face ao pedido de clemência de “vá lá apieda-te que não tenho mãezinha” o seguinte: “Ora bolas, grande avaria, eu também não conheço a minha mãezinha e nem por isso estou para aqui a chorar baba e ranho, como tu ó meu paspalhão!”

Virando a coisa ao contrário (sacode-se o saco a ver se sai algo de jeito) ninguém pode pedir esmola para seus filhinhos inanimados pela fome e frio... como não sabe quem são , sequer sabe se estão com fome ou se tremem de frio, ninguém deita a moedinha sonante no pratinho plástico poisado no passeio.

Ninguém mete uma cunha para conseguir um emprego para o seu descendante! Isto até poderia ser bom, em qualquer local, país ou civilização... mas lembrai-vos, incautos, que falamos de um planeta de outra galáxia, de outro mundo, calhando de outro universo... o trauma gerado por este facto é o de, no leito de morte, chegar à conclusão de não ter feito nada pelos seus filhos, coisa grave e mal vista pelo povo de qualquer civilização!

Que dirá o transeunte face à previsão da cigana, que lhe leu o destino dizendo que nunca irá conhecer os seus filhos; que dirá o juiz face ao pedido de libertação condicional do prisioneiro que lhe diz nunca ter, em todos os anos de encarceramento, conhecido seus filhinhos? Obviamente : “Ora bolas, grande avaria, eu também não conheço os meus filhos e nem por isso estou para aqui a chorar baba e ranho, como tu ó meu paspalhão!”

Para terminar, e para contrabalançar toda esta tragédia, ninguém se preocupa em Arghalhargh, se os filhos são, mesmo, do marido da mãe!

quarta-feira, abril 05, 2006

Política


Em Arghalhargh ser titular de um cargo público é ser melhor que os demais. Raizes milenares provocam a inveja a quem não é titular de uma autarquia, um mandato de deputado, ou coisa semelhante. Na realidade não é nada disto, mas, como todos procuram mostrar ser melhores que os outros, sempre se arranja uma desculpa. E um cargo público é melhor desculpa para se gabar que as gracinhas ou as proezas dos filhos contadas pelas mamãs numa qualquer sala de professores.

Para ser titular de um cargo público em a! é preciso passar uma série de provas; umas documentais, outras físicas, ou ainda psicológicas. É difícil, mas muitos superam as expectativas iniciais tal é a motivação.

Pelas provas físicas se passa com treino e musculação... são as mais fáceis, muito embora se tenha de treinar com afinco e durante anos: levantamento de pesos, corrida, muita flexibilidade. É penoso.

As provas psicológicas implicam que se tenha muita força de vontade. Capacidade de resistência, resiliência e muita capacidade de adaptação a novas situações. Coisa que não é novidade na carreira política. A total ausência de moral ajuda a esta última, uma vez que se se adaptar uma opinião velha a uma situação nova só se poderão obter vantagens. Aliás quem for possuidor de opiniões nunca poderá, em Arghalhargh, ser titular de qualquer cargo, que em algumas circunstâncias pode ser considerado crime punível com prisão perpétua. Assim, se devem dissimular as opiniões e gostos que por estes se pode detectar um cidadão com ideias, assim como os sinais exteriores de riqueza em alguns países.

As eleições para cargos são demolidoras no que diz respeito à ultima tarefa, pois são exclusivas. Qualquer cidadão que não tenha estes documentos em ordem é excluído de qualquer candidatura. Há, no entanto, algumas excepções: para os cargos de funcionário de Câmaras Municipais, fiscais de obras e carrasco (entre outros), uma vez que se considera que no exercício destes já existem os pressupostos pretendidos e não será necessária formação profissional prévia.

Que pressupostos tão exigentes serão estes? Pois, trata-se de um cadastro criminal preenchido. Se não houver pelo menos uma dúzia de crimes, nunca se poderá atingir um cargo público, por não haver formação profissional suficiente. Todo o tempo que se passa no cumprimento de pena prisional é considerado como um curso de ciências políticas. Para o exercício de cargos mais exigentes serão pretendidos candidatos com mais formação profissional, logicamente. Frequência de más companhias, fraude fiscal (um dos crimes mais conceituados a par com o de genocídio) um gang de rua que espanca velhinhos pelo dinheiro, um grupo de hooligans, um ou dois assaltos a caixas de multibanco, furto de automóveis, dois ou três anos de prisão... darão, por exemplo, acesso a um emprego de média categoria numa repartição pública, ou como assistente social (que neste caso nunca poderia dizer que não há transporte, como desculpa para não fazer nenhum - como de costume... furtaria um automóvel!)

Para chefe de repartição, administrador de empresas públicas, médico, ou cargos equivalentes deixo à imaginação do leitor a tarefa de construír um currículo adequqdo. Vá lá façam um esforço. Não poupem a imaginação. Massacres, genocídios, crimes sexuais...

Mas, perguntar-me-ão, e aqueles que nunca foram apanhados nas malhas da justiça? Aqueles que sempre conseguiram passar incólumes pelo crivo demolidor da lei? A estes como seria de se esperar são-lhes dados os mais importantes cargos: no mínimo secretário de estado ou ministro.

quinta-feira, março 30, 2006

Crescer

Como deveis estar a par isto de crescer causa traumatismos... ‘Parece-me-que’... Ouvi dizer! Em Arghalhargh é semelhante, mas como todos são doentinhos os traumatismos também são maiores...

Cada um tem os seus e não vale empurrar! Em tal mundo também não vale, mas tem algumas nuances. Cada cidadão tem de aturar os seus traumas, sim, claro! Como todos, todos mesmo! Nem nunca se esquece de nenhum. Um tem trauma de ser baixinho, outro de ser gordito, outro ainda de não conseguir arranjar o emprego bem remunerado que sempre quis... como dificilmente se tem um só trauma o que acontece é que vão-se acumulando os traumas... uns em cima dos outros.

Começando pelo início: todos têm trauma de nascer, a troca de um local quentinho e confortável por um agressivo e barulhento. Todos têm o trauma da fralda borrada e do desconforto da urina no ‘tutu’ a fazer ‘tchoc’ de cada vez que se mexe uma perna. Todos têm o trauma de ter fome e ter de berrar pela comida por não se saber, ainda, ofender a progenitora que não põe a mama a jeito. (por outro lado as mães aleitantes ficam com o trauma de ouvir aquela criança abjecta e ruidosa enquanto lhe doem as mamas entumescidas de leite)...

Bem podia continuar a enumerar o óbvio... mas deixo ao leitor a tarefa de dar utilização à sua imaginação... se isso não for traumatizante (que nunca se sabe)...

Todos andam com os seus traumas atrás... alguns carregam esse peso aos ombros, os que andam curvados, outros cogitam sobre seus traumas, outros têm trauma por darem pouca atenção aos seus traumas... outros, com pouca memória, carregam um canhenho com a descrição de seus traumas (estes carregam-nos literalmente e traumatizam a coluna vertebral com o peso desconforme)... peço desculpas pela cacofonia que eu sei ser traumática.

Um trauma em a! é coisa séria, mesmo muito séria. (comparável ao trabalho de educar uma criança nos dias de hoje em Portugal... fazem-se lhes as vontadinhas todas e espera-se que não dê muito mau resultado... “eu não o consigo ouvir mais, por isso dei-lhe o bolicau mesmo antes do jantar” ou “os professores são mesmo umas bestas, onde é que se viu mandar um trabalho de casa em que se pede auxílio aos pais? Vai lá mas é jogar consola!”) Pode-se mesmo ter um trauma por não ter traumas, ou mesmo ter inveja e fazer birras por o parceiro do lado ter um trauma ‘mais lindo’ que os outros. Bem vistas as coisas só faltava mesmo ter de se criar um catálogo de traumas, mas isso poderá ser traumatizante...

Bem, voltando à seriedade dos traumas, isto de ter traumas, de ser traumatizado é tão grave que se dedicam rios de dinheiro à destraumatização dos traumas... Institutos de psicologia, centros de destraumatização e muitas terapêuticas mais... algumas próximas do vudú ou de medicinas exotéricas... tudo serve para tirar peso ao massacre diário de viver com todos esses traumas, ainda que esse esforço cause traumas à economia do planeta.

Prodigiosa memória, a que faz lembrar a todo o tempo ao portador de seus traumas. Que se saiba o povo Arghalharguiano parece ser o povo mais massacrado do universo uma vez que não consegue dar o passo em frente para ser menos infeliz.

Correntemente utilizam-se centenas de quilos de antidepressivos para permitir a vida no dia a dia. Tomam-se como refeição ligeira a meio da manhã ou da tarde: “Olhe, é um copo de três e uma 'sande' de fluoxetina, por favor.” Encontram-se à venda nos estabelecimentos comeciais bebidas como café ou refrigerantes à base de prozac e ansiolíticos, mas de pouco servem para dar resolução a esse problema, que já criou habituação no corpito.

Trabalha-se presentemente num processo químico e cirúrgico de remoção de partes do cérebro dos habitantes traumatizados para que a memória destes se possa libertar de lembranças traumáticas, ainda que os possa transformar em galinácios desmiolados.