domingo, março 12, 2006

Reprodução

Em Arghalhargh, em tempos imemoriais havia duas espécies inteligentes dominantes, ambas tinham nível de desenvolvimento semelhante. Mas como viviam, preferencialmente, em partes diferentes do planeta, davam-se bem, cordialmente, até havia relações de tipo comercial ou diplomático. Em suma davam-se bem.

Certa altura decidiram colonizar outro continente do planeta e assim foi. Sentaram-se à mesa e decidiram que colonizar tudo bem, mas apenas se o ‘status quo’(1) não fosse alterado. Assim se iniciou o processo de instalação de colónias no novo continente. Umas destes, outras daqueles, e tudo corria bem.

Mas, as notícias corriam, e a abundância de conhecimentos dava resultados inesperados. Havia tantos que faziam a Enciclopédia Galáctica parecer uma redacção escolar de um aluno da Escola do Primeiro Ciclo do Ensino Básico de Alcogulhe, Maceira.

Um dia aconteceu... Um coleccionador de conhecimentos leu um dos documentos da sua colecção... erro crasso! Descobriu que , há já alguns anos o status quo estava em mutação. Entradas, saídas diferenças de opinião, mudanças de continente... e por fim, com a saída e processo em tribunal de Alan Lancaster aos restantes membros do grupo, a coisa “deu para o torto” e assim uma das espécies considerou que o Status Quo estava definitivamente alterado. A partir deste momento chave na história do planeta Arghalhargh houve cisões nos próprios elementos de cada espécie. Discussões públicas insanáveis e tumultos em muitas cidades. Como no novo continente todos viviam juntos, as duas espécies coabitavam, as molhadas de porrada eram também entre os vizinhos de espécies diferentes.

Acirram-se os racismos e as diferenças... Tornou-se tudo numa guerra em larga escala sem quartel porque todos estavam envolvidos. As crianças na escola atiravam pedras umas às outras, as mulheres no mercado ofendiam-se e agrediam-se com hortaliças. Os homens, no estádio, não ligavam ao futebol e as claques atiravam-se umas às outras sem ligarem ao jogo, em vez de arranjarem uma desculpa qualquer para fazerem asneira.

Apareceram as primeiras milícias populares, os primeiros combates e, em pouco tempo já havia armas estratégicas a voar de um lado para o outro. Para além disso era como nas guerras étnicas, havia violações em massa, muitas vezes nem combates havia, só estupros.

Com o correr dos anos ninguém mais sabia quem era por que lado, nem porque se continuava a guerra, nem mesmo porque se tinha começado aquele rebuliço todo... nem interessava!

Décadas de violações tornaram o ADN dos descendentes na coisa mais degenerada que por ali havia, já ninguém sabia se era filho dele ou fruto das “guerras baixas”. Criou-se assim o hábito de abandonar os filhos à sua sorte, assim como assim eles eram tão disformes que nem valia a pena tê-los em casa. Até porque as fêmeas da nova espécie miscigenada tinham os maiores ataques de Síndroma Pré-Menstrual conhecidos.

Esses ataques tinham tal dimensão que se considerou aproveitar a carga energética para a produção de energia aproveitável para a produção na indústria pesada. Este projecto não conseguiu ser implementado porque do laboratório de investigação houve uma fuga de informação e quando as fêmeas souberam do propósito dos cientistas e, só para contrariar deixaram-se de raivas o que levou à falência do projecto. Como seria de se esperar depois deste processo toda a carga emocional e hormonal voltou com intensidade redobrada no ciclo menstrual seguinte, causando nova vaga de tumultos e tempestades erráticas e inexplicáveis pela ciência.

Do abandono e da falta de famílias até à vulgarização da violação como meio de reprodução foi um passo simples. Já ninguém constituía família, passavam por alguém na rua, seguiam essa pessoa e com um processo simples e ritualizado, violavam-na. E por incrível que pareça não eram os homens que o faziam mais, eram as fêmeas que assaltavam os machos e os forçavam a violá-las, uma vez que ninguém no seu bom senso se chegava a outro com intenções lúbricas.



Status quo is a Latin term meaning the present, current, existing state of affairs. To maintain the status quo is to keep things the way they presently are. Compare it with status quo ante, meaning "the state of things as it was before."

Status Quo is a UK rock band founded by bassist Alan Lancaster and guitarist Francis Rossi in 1962.

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