quarta-feira, abril 05, 2006

Política


Em Arghalhargh ser titular de um cargo público é ser melhor que os demais. Raizes milenares provocam a inveja a quem não é titular de uma autarquia, um mandato de deputado, ou coisa semelhante. Na realidade não é nada disto, mas, como todos procuram mostrar ser melhores que os outros, sempre se arranja uma desculpa. E um cargo público é melhor desculpa para se gabar que as gracinhas ou as proezas dos filhos contadas pelas mamãs numa qualquer sala de professores.

Para ser titular de um cargo público em a! é preciso passar uma série de provas; umas documentais, outras físicas, ou ainda psicológicas. É difícil, mas muitos superam as expectativas iniciais tal é a motivação.

Pelas provas físicas se passa com treino e musculação... são as mais fáceis, muito embora se tenha de treinar com afinco e durante anos: levantamento de pesos, corrida, muita flexibilidade. É penoso.

As provas psicológicas implicam que se tenha muita força de vontade. Capacidade de resistência, resiliência e muita capacidade de adaptação a novas situações. Coisa que não é novidade na carreira política. A total ausência de moral ajuda a esta última, uma vez que se se adaptar uma opinião velha a uma situação nova só se poderão obter vantagens. Aliás quem for possuidor de opiniões nunca poderá, em Arghalhargh, ser titular de qualquer cargo, que em algumas circunstâncias pode ser considerado crime punível com prisão perpétua. Assim, se devem dissimular as opiniões e gostos que por estes se pode detectar um cidadão com ideias, assim como os sinais exteriores de riqueza em alguns países.

As eleições para cargos são demolidoras no que diz respeito à ultima tarefa, pois são exclusivas. Qualquer cidadão que não tenha estes documentos em ordem é excluído de qualquer candidatura. Há, no entanto, algumas excepções: para os cargos de funcionário de Câmaras Municipais, fiscais de obras e carrasco (entre outros), uma vez que se considera que no exercício destes já existem os pressupostos pretendidos e não será necessária formação profissional prévia.

Que pressupostos tão exigentes serão estes? Pois, trata-se de um cadastro criminal preenchido. Se não houver pelo menos uma dúzia de crimes, nunca se poderá atingir um cargo público, por não haver formação profissional suficiente. Todo o tempo que se passa no cumprimento de pena prisional é considerado como um curso de ciências políticas. Para o exercício de cargos mais exigentes serão pretendidos candidatos com mais formação profissional, logicamente. Frequência de más companhias, fraude fiscal (um dos crimes mais conceituados a par com o de genocídio) um gang de rua que espanca velhinhos pelo dinheiro, um grupo de hooligans, um ou dois assaltos a caixas de multibanco, furto de automóveis, dois ou três anos de prisão... darão, por exemplo, acesso a um emprego de média categoria numa repartição pública, ou como assistente social (que neste caso nunca poderia dizer que não há transporte, como desculpa para não fazer nenhum - como de costume... furtaria um automóvel!)

Para chefe de repartição, administrador de empresas públicas, médico, ou cargos equivalentes deixo à imaginação do leitor a tarefa de construír um currículo adequqdo. Vá lá façam um esforço. Não poupem a imaginação. Massacres, genocídios, crimes sexuais...

Mas, perguntar-me-ão, e aqueles que nunca foram apanhados nas malhas da justiça? Aqueles que sempre conseguiram passar incólumes pelo crivo demolidor da lei? A estes como seria de se esperar são-lhes dados os mais importantes cargos: no mínimo secretário de estado ou ministro.