quinta-feira, março 30, 2006

Crescer

Como deveis estar a par isto de crescer causa traumatismos... ‘Parece-me-que’... Ouvi dizer! Em Arghalhargh é semelhante, mas como todos são doentinhos os traumatismos também são maiores...

Cada um tem os seus e não vale empurrar! Em tal mundo também não vale, mas tem algumas nuances. Cada cidadão tem de aturar os seus traumas, sim, claro! Como todos, todos mesmo! Nem nunca se esquece de nenhum. Um tem trauma de ser baixinho, outro de ser gordito, outro ainda de não conseguir arranjar o emprego bem remunerado que sempre quis... como dificilmente se tem um só trauma o que acontece é que vão-se acumulando os traumas... uns em cima dos outros.

Começando pelo início: todos têm trauma de nascer, a troca de um local quentinho e confortável por um agressivo e barulhento. Todos têm o trauma da fralda borrada e do desconforto da urina no ‘tutu’ a fazer ‘tchoc’ de cada vez que se mexe uma perna. Todos têm o trauma de ter fome e ter de berrar pela comida por não se saber, ainda, ofender a progenitora que não põe a mama a jeito. (por outro lado as mães aleitantes ficam com o trauma de ouvir aquela criança abjecta e ruidosa enquanto lhe doem as mamas entumescidas de leite)...

Bem podia continuar a enumerar o óbvio... mas deixo ao leitor a tarefa de dar utilização à sua imaginação... se isso não for traumatizante (que nunca se sabe)...

Todos andam com os seus traumas atrás... alguns carregam esse peso aos ombros, os que andam curvados, outros cogitam sobre seus traumas, outros têm trauma por darem pouca atenção aos seus traumas... outros, com pouca memória, carregam um canhenho com a descrição de seus traumas (estes carregam-nos literalmente e traumatizam a coluna vertebral com o peso desconforme)... peço desculpas pela cacofonia que eu sei ser traumática.

Um trauma em a! é coisa séria, mesmo muito séria. (comparável ao trabalho de educar uma criança nos dias de hoje em Portugal... fazem-se lhes as vontadinhas todas e espera-se que não dê muito mau resultado... “eu não o consigo ouvir mais, por isso dei-lhe o bolicau mesmo antes do jantar” ou “os professores são mesmo umas bestas, onde é que se viu mandar um trabalho de casa em que se pede auxílio aos pais? Vai lá mas é jogar consola!”) Pode-se mesmo ter um trauma por não ter traumas, ou mesmo ter inveja e fazer birras por o parceiro do lado ter um trauma ‘mais lindo’ que os outros. Bem vistas as coisas só faltava mesmo ter de se criar um catálogo de traumas, mas isso poderá ser traumatizante...

Bem, voltando à seriedade dos traumas, isto de ter traumas, de ser traumatizado é tão grave que se dedicam rios de dinheiro à destraumatização dos traumas... Institutos de psicologia, centros de destraumatização e muitas terapêuticas mais... algumas próximas do vudú ou de medicinas exotéricas... tudo serve para tirar peso ao massacre diário de viver com todos esses traumas, ainda que esse esforço cause traumas à economia do planeta.

Prodigiosa memória, a que faz lembrar a todo o tempo ao portador de seus traumas. Que se saiba o povo Arghalharguiano parece ser o povo mais massacrado do universo uma vez que não consegue dar o passo em frente para ser menos infeliz.

Correntemente utilizam-se centenas de quilos de antidepressivos para permitir a vida no dia a dia. Tomam-se como refeição ligeira a meio da manhã ou da tarde: “Olhe, é um copo de três e uma 'sande' de fluoxetina, por favor.” Encontram-se à venda nos estabelecimentos comeciais bebidas como café ou refrigerantes à base de prozac e ansiolíticos, mas de pouco servem para dar resolução a esse problema, que já criou habituação no corpito.

Trabalha-se presentemente num processo químico e cirúrgico de remoção de partes do cérebro dos habitantes traumatizados para que a memória destes se possa libertar de lembranças traumáticas, ainda que os possa transformar em galinácios desmiolados.